Grupo dos Onze

Grupo dos Onzes

 
Ramati Neruda

 
Final de 1962 e inicio de 1963, foi neste tempo que um forte movimento político passou despontar no Brasil a fazer parte do cotidiano de muitos brasileiros. O Grupo dos 11, como ficou conhecido, reunia principalmente ferroviários e estudantes, trabalhadores, artistas e intelectuais que eram contra a queda do então presidente João Goulart, e tinham como principal missão difundir este ideal, não importando quanto sacrifício esta posição exigiria.

Até bem pouco tempo, o movimento ficou travestido na lembrança e resguardado aos fatos do passado. Hoje, com o fim da ditadura e uma abertura política que parece não ter mais fim, fica mais fácil falar sobre o assunto. O Grupo dos 11, trocando-se em miúdos, constituía-se na forma de uma pequena agremiação que reunia idealistas e trabalhava para difundir a possibilidade de um golpe para tirar Jango do poder.

Não eram, necessariamente, 11 pessoas que integravam o grupo, apesar dele levar esta titulação. Este número indicava quantos deveriam ser para que ele se iniciar numa determinada localidade. O Golpe de 64, que derrubou Jango, era tudo o que eles não queriam.

O movimento iniciou capitaneado pelo então deputado federal Leonel Brizola, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e cunhado do presidente. Corria, na época, uma conversa à boca pequena de que existia um clima de golpe no ar. Mal começou o ano de 1964 e estas evidências tornaram-se mais fortes.

Falava-se da abertura de uma temporada de caça. Quem seria o caçador ou a caça, ninguém sabia ao certo. O anúncio vinha tanto da direita quanto da esquerda, de dentro e de fora do governo. Um relatório da embaixada britânica dava conta de que o chefe da Casa Civil do governo do Rio Grande do Sul, Plínio Cabral, anunciou ter conhecimento de um plano revolucionário em andamento no Estado para manter Jango no Poder. O principal suspeito de liderar o movimento era o deputado Leonel Brizola.

A classe dos ferroviários e estudantes foi escolhida por Brizola porque era muito unida e a facilidade na comunicação era evidente, tanto pelo vai-e-vem dos trens como pelo uso do código morse para se comunicar. Praticamente todos os ferroviários estiveram diretamente envolvidos com o Grupo dos 11, no ano de 1964. Faziam reuniões escondidas e propagavam a manutenção de Jango no poder, principalmente os da Estrada de Ferro Central do Brasil (entre Rio de Janeiro e Juiz de Fora).

Não foi possível manter o presidente, mas não por falta de vontade destes, digamos assim, formadores de opinião. Foram presos várias vezes por defenderem seus ideais, principalmente quando o clima ficou mais quente na política nacional e aproximava-se a queda de Jango. Corria, então, o ano de 1964. Seria o ano em que a vida de todos os brasileiros mudaria e entraríamos em um período de ditadura, que durou até 1985, com uma singela abertura a partir de 1979.

Talvez a ditadura tenha reprimido movimentos como o do Grupo dos 11, já que hoje em dia as organizações políticas se resumem aos partidos e são discutidas também nas lojas maçônicas, mas é só. 

As classes trabalhistas quase não se organizam para tentar fazer valer seus direitos. 

Os estudantes movimentam-se timidamente. Por isso é que se tem tanta saudade daquele tempo. Também pode ser por isso que as imagens de jovens combatendo e sendo combatidos se repitam na tela do televisor e os jovens de hoje olhem espantados para toda aquela coragem. 

Era muito mais do que isso. Era a vida de cada um que estava em jogo. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e muitos outros que foram contra o regime, sentiram na pele as maledicências de um governo voltado totalmente ao autoritarismo.

O Grupo dos 11, também sofreu as agruras da ditadura. Tempos difíceis e de lutas desiguais. Um tempo que levou consigo a nostalgia de se lutar pelo que se queria. Levou também os ideais do Grupo dos 11, que, apesar de não ter conseguido atingir seu objetivo principal, mostrou à sociedade que ideologia política é muito mais do que simplesmente simpatizar com algum partido.

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