Movimentos que Ramati Participou

 

Histórico da JOC
 
  
A Igreja Católica desde as primeiras décadas do século XX já articulara o Programa de Ação Católica, onde através de movimentos confessionais os leigos atuariam como uma extensão do apostolado em meio a sociedade. Entretanto, o Concílio Vaticano II procurou ressaltar o papel do laicato, destacando maiores responsabilidades aos leigos. Segundo Mainwaring, para os católicos reformistas a maior autonomia dos leigos seria uma forma da Igreja manter-se influente e evangelizar as massas e, para os conservadores seria uma forma de aprofundar o domínio tradicional da Igreja na sociedade.

Conhecendo as transformação por que passou a Igreja Católica a partir da década de 1950, pode-se compreender as mudanças ocorridas no Programa de Ação Católica, iniciado no Brasil por D. Sebastião Leme, durante o papado de Pio XI (1922-1939) e que pretendeu potencializar as práticas de fiéis leigos na Igreja. 

Inicialmente, a estrutura da Ação Católica Brasileira (ACB), criada em 1920 e oficializada em 1935, assemelhou-se à italiana, com movimentos de juventude, de adultos, feminino e masculino: Homens da Ação Católica (HAC), Liga Feminina da Ação Católica (LFAC), Juventude Católica Brasileira (JCB-masc.) e Juventude Feminina Católica (JFC). No setor da juventude surgiram as primeiras subdivisões que já indicava uma especialização: a Juventude Estudantil Católica (JEC), a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Universitária Católica (JUC).

Mas, somente no final da década de 1940, a Ação Católica Especializada foi reorganizada, espelhando-se, neste momento, nos modelos belga e francês. Nesta reordenação, reconhecia-se os diferentes grupos sociais que constituíam a sociedade brasileira, reunindo os jovens em núcleos segundo sua condição social como os operários (Juventude Operária Católica - JOC), os trabalhadores do campo (Juventude Agrária Católica- JAC, os universitários (Juventude Universitária Católica - JUC), os estudantes (Juventude Estudantil Católica - JEC) e a Juventude Independente Católica - JIC, para os que não se enquadrassem nas outras situações.

Neste período, a Igreja no Brasil e a Ação Católica Brasileira sofria forte influência da Igreja européia, canadense e norte-americana, e principalmente da francesa. Os padres brasileiros partiam em viagem para estudar naquele país e também recebiam a visita de religiosos franceses. O Padre francês Louis Joseph Lebret influenciou a Igreja brasileira com seus estudos sobre economia, humanismo e a questão do subdesenvolvimento. Elaborou teorias sobre as possibilidades de desenvolvimento industrial em regiões como o Nordeste brasileiro. O ideal economia e humanismo objetivava vencer as diferenças sociais por meio do desenvolvimento solidário, afastando a idéia de luta de classes e revolução. 

Segundo Beozzo, a Ação Católica nos anos de 1960, "já havia levantado as questões da fome, do subdesenvolvimento, do compromisso do cristão no campo político e social para a libertação das grandes massas oprimidas."

Ralph Della Cava ressaltou o papel da Ação Católica como movimento para reconquistar os fiéis que, principalmente, no espaço urbano estavam deixando o catolicismo para voltarem-se ao pentecostalismo e atraídos pelo marxismo, causando assim, o esvaziamento das igreja católicas. 

Neste contexto se desenvolveu a Juventude Operária Católica (JOC) no Brasil, movimento que integrava a Ação Católica Brasileira especializada (ACB). 

A JOC fora fundada pelo padre belga León Joseph Cardijn, no ano de 1923 e os primeiros grupos se formaram no Brasil na década de 1930. Somente em 1948, a JOC foi oficializada nacionalmente. Cardijn elaborara o método de análise social, ver, julgar e agir, através do qual, primeiro observaria-se a realidade e os problemas, para depois discutir como resolvê-los e colocar os planos em prática. No mesmo ano em que a JOC fora oficializada, Cardijn visitou alguns países da América Latina, entre eles o Brasil. Assim, havia uma relação entre os movimentos de JOC na América Latina e Europa, no que se referia à orientação do movimento. Uma seção de JOC Internacional, sediada na Bélgica, procurava manter uma certa unidade entre os movimentos nos diferentes países em que existiam. 

Segundo Scott Mainwaring, a JOC seria um esforço, por parte da hierarquia católica, de realizar uma cautelosa modernização através de um trabalho pastoral mais eficaz ao lado da classe trabalhadora. Estudiosos que analisaram o desenvolvimento do movimento, destacaram seu papel inicial como uma organização que procurava cristianizar a classe operária, para posteriormente, na década de 1960, se envolver em questões políticas, distanciando-se das orientações da hierarquia Católica. S. Mainwaring destacou que a JOC realmente apresentou uma mudança em relação ao envolvimento nas práticas sociais de sua classe devido a uma mudança do setor progressista da Igreja que orientava o movimento e também à participação dos militantes como trabalhadores operários, que se envolviam diretamente com os problemas da classe operária. Segundo este autor, mesmo depois de 1964 a JOC continuou atrelada a Igreja, o que demonstrou que acompanhou as orientações da instituição, principalmente a do setor progressista. 

Oscar Beozzo ao analisar a relação de militantes da JUC com a hierarquia da Igreja, afirmou terem sido os padres assistentes do movimento, responsabilizados pela hierarquia, por deixar que o movimento tomasse um caminho que não era o pretendido pela hierarquia, ou seja, os militantes que inicialmente obedeciam às orientações da Igreja, num segundo momento desenvolveram práticas independentes das orientações da Igreja e cada vez mais ligadas ao temporal.

Segundo este autor, o diálogo entre Igreja (hierarquia) e militantes da Ação Católica se tornara difícil em decorrência das relações cada vez mais estreitas dos militantes com as organizações da esquerda. E, ainda, ressaltou que os valores empreendidos pelos universitários cristãos se relacionavam, cada vez mais, com o ideal histórico do grupo social formado pelo meio universitário, enquanto que a hierarquia agia em função de uma percepção coletiva de valores. Daí, este autor compreende o afastamento dos militantes jucistas do movimento de Igreja.
 
  
Credito para https://www.historiadajoc.hpg.ig.com.br/ 
 
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